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Artigo: O sistema com sangue nas mãos – homenagem ao colega Élcio (por Aline Pereira Menezes, servidora do PJU de SP) 

Nesta madrugada um colega meu de trabalho faleceu após ter um infarto ao acompanhar, em Brasília nesta semana, a vergonhosa sessão do Congresso Nacional derrubada pela suposta falta de quórum.   O nome desse meu colega era Élcio, servidor público federal com quase duas décadas de serviços prestados na Justiça Federal do Paraná.  A morte de Élcio não será notícia, tampouco ocupará a capa de qualquer jornal: Élcio não era um cantor sertanejo, nem um político famoso.  Élcio era um brasileiro, como você que me lê e como eu, um trabalhador comum do Poder Judiciário Federal, concursado, com vencimentos achatados há muitos anos, em greve desde 20 de maio.

Élcio teve um infarto na tarde da quarta-feira, poucas horas após a vergonhosa manobra do Congresso Nacional que, por ordem da Dilma – que prometera recompensar os parlamentares com 500 milhões de reais em emendas parlamentares – derrubou a sessão que analisaria o veto aposto pela Presidente ao PLC n. 28/2015 – que trata sobre a recomposição dos vencimentos dos trabalhadores do Poder Judiciário.  Élcio passou o dia no gramado em frente ao Congresso Nacional.  Ele compunha a massa de mais de 10 mil servidores que gritavam, em uníssono, pela derruba do veto!

Naquele 02 de setembro todos nós fomos humilhados.  Humilhados de forma vil e covarde por um sistema político que nos obriga a passar horas e horas debaixo do sol, há mais de 2 meses, para conseguir simplesmente o que é certo, o que é justo.  Humilhados por um Legislativo vendido, cúmplice das atrocidades desse desgoverno.  Humilhados pelo chefe maior do Poder Judiciário, Sr. Lewandowski capacho servil e cordato da Presidente Dilma.  Naquele mesmo dia, Lewandowski pautou no STF uma ação que tem como objetivo decidir sobre o corte de remuneração daqueles que estão na greve.  Sim, ele não só está ao lado do governo, mas ele trabalha contra nós, contra servidores que, como o Élcio, estão em greve por condições melhores de trabalho.  Fomos humilhados pelo PT, antigo Partido dos Trabalhadores, hoje só um conglomerado de corruptos que mantém, a custos absurdos para todos nós, a Presidente Dilma no poder.  Declaro, para quem quiser ouvir, que o Sr. Renan Calheiros, o Sr. Lewandowski e a Sra. Dilma Rousseff têm hoje suas vidas manchadas com o sangue deste brasileiro, com o sangue deste servidor público federal, submetido a uma morte ridícula iniciada após o ato na Praça dos Três Poderes.

Élcio não morreu por nós.  Morreu por querer uma vida melhor para sua família, para si mesmo.  Élcio morreu pelos desmandos dessa política podre, morreu humilhado, cansado, mas com certeza feliz por estar fazendo o certo.  Quando chegamos em Brasília, na terça-feira, ele me disse que ele só sairia dali quando o veto fosse derrubado.  Infelizmente, não houve tempo para que ele vivesse a vitória.

Na semana passada, o Elcio leu o meu texto sobre o Capitão Nascimento aqui no blog Em suas palavras em um whatsapp na madrugada do dia 01 de setembro:

“Aline, belo texto esse que fala da Tropa de Elite.  Todos deveriam ler.  Sugiro postar em todos os grupos de whatsapp e entregar umas duas vias impressas em cada unidade de trabalho.  Pelo menos, nesta reta final, vamos tentar acordar quem está dormindo ainda, ao tempo que estaremos conquistando os colegas para as próximas lutas.  Parabéns pelo belo texto.  Abraço”

Por coincidência, a frase que me motivou a escrever aquele texto é: “O sistema é foda,  ainda vai morrer muito inocente”.  Sinta-se homenageado aqui, Élcio, você que era leitor assíduo desse blog.  Descanse em paz, companheiro, nós todos morremos um pouco com você nesta madrugada!

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